Cetic.br promove debates sobre desafios para a produção de dados estatísticos no contexto das tecnologias digitais emergentes
Em sua 12ª edição, o Annual Workshop on Survey Methodology conduzido pelo Cetic.br|NIC.br reuniu especialistas nacionais e internacionais de diferentes setores
Com o tema central "Desafios metodológicos para a produção de dados no contexto de tecnologias digitais emergentes", o 12th NIC.br Annual Workshop on Survey Methodology reuniu, entre os dias 29 de agosto e 1º de setembro, na capital paulista, gestores públicos, pesquisadores, representantes da sociedade civil e de organizações internacionais. O encontro, promovido pelo Centro Regional de Estudos sobre o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), teve em sua programação minicursos, sessões temáticas, palestras e discussões de casos práticos relacionados à inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e outras tecnologias disruptivas.
Na abertura do workshop, o diretor-presidente do NIC.br, Demi Getschko, ressaltou que o NIC.br é uma instituição sem fins de lucro e que, por meio da receita advinda do registro de domínios .br, promove ações e projetos que beneficiam a Internet no país, a exemplo do workshop anual de metodologia de pesquisa, entre diversas outras ações. Alexandre Barbosa (gerente do Cetic.br|NIC.br) destacou que o Centro de Estudos prima pelo rigor metodológico desde a sua criação em 2005, buscando a excelência na produção de dados estatísticos que sejam internacionalmente comparáveis. Hoje, o Cetic.br acompanha o acesso e uso das TIC em mais de dez áreas, muitas delas relacionadas à agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
O workshop anual de metodologia de pesquisa, co-organizado pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contou em sua abertura com a participação do Professor Gustavo da Silva Ferreira (vice coordenador da ENCE), que chamou atenção para a rica troca de conhecimento e colaboração mútua que caracterizam o encontro.
A partir do tema "Inteligência Artificial e a filosofia política do futuro", o keynote speaker Gray Cox (professor do College of the Atlantic) defendeu em sua apresentação que "a sociedade deve buscar viver de forma mais sábia, não apenas mais inteligente". Na avaliação do professor, a inteligência é a capacidade de sustentar e/ou aprimorar um ou mais valores em vários contextos ao longo do tempo, enquanto a sabedoria é a inteligência sistemática que responde de forma apropriada a uma gama de valores. "Precisamos adotar um modelo de século 21 mais inclusivo, que se baseie no raciocínio para expressar vozes individuais, mas que busque resolver conflitos usando formas mais iabrangentes de racionalidade, que nos tornem mais sábios e nos ajudem a lidar com problemas complexos ou ‘perversos’, que envolvem perspectivas e quadros de significados múltiplos, divergentes e incongruentes para a compreensão de valores, elementos e dinâmicas", comentou.
Na primeira sessão especial, Marielza Oliveira (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco) falou sobre a estrutura dos Indicadores ROAM-X de universalidade da Internet, abordando uma perspectiva dos direitos humanos e IA. "O Brasil foi o primeiro país que teve o seu ecossistema de Internet avaliado a partir dos indicadores de Universalidade da Internet da UNESCO, um trabalho conduzido pelo Cetic.br", pontuou.
Ao detalhar os indicadores ROAM-X da UNESCO, atualmente adotados em 45 países, Marielza Oliveira reforçou que a evolução da Internet deve ser baseada nos direitos humanos, ser aberta, acessível a todos, e promovida com a participação multissetorial. "Os mesmos princípios devem guiar o desenvolvimento e expansão da inteligência artificial. Hoje é um desafio medir o uso de IA e monitorar como seus princípios funcionam na prática", completou. Ela destacou também os impactos potenciais da IA no direito à privacidade, a partir da adoção de softwares de reconhecimento facial, e elencou danos decorrentes de viéses de algoritmos. "O multissetorialismo é o caminho para chegaremos lá. É necessário unir vários setores ao falar sobre o desenvolvimento da IA".
Com uma perspectiva prática, Luis Aranda (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE) apresentou o trabalho que a OCDE tem desenvolvido para fazer com que princípios de IA se transformem em ações, monitorando o uso de inteligência artificial nos países. O banco de dados de políticas nacionais de IA da OCDE tem por objetivo fornecer uma visão geral comparável e atualizada. "A manutenção de bases de dados de políticas nacionais de IA, a classificação de sistemas de IA, bem como descrições de iniciativas decorrentes das políticas nacionais de inteligência artificial são desafios que a OCDE enfrenta com o monitoramento de IA”, afirmou Aranda.
Programação
Também na segunda-feira, Morgan Frank (Universidade de Pittsburgh) explorou o tema "Competências, Tecnologia e Carreiras no Futuro do Trabalho" e Ellen Helsper (London School of Economics) falou sobre a importância de medir habilidades digitais por meio de pesquisas. O 12th NIC.br Annual Workshop on Survey Methodology contou ainda com sessões especiais comandadas Fredrik Otto Lennart Eriksson (International Telecommunications Union - ITU) e Augusto Fadel (IBGE), e a participação dos palestrantes Vijay Nair (Wells Fargo & UMICH) e Jean-François Beaumont (Statistics Canada), além de minicursos sobre como reduzir/medir viéses em big data para produção de estatísticas oficiais, conduzido por David Marker (LLC), métodos para lidar com não-respostas, realizado por Raphael Nishimura (UMICH), e aprendizado a partir de pesquisas qualitativas com Marlei Pozzebon (HEC Montreal & FGV-EAESP). Houve ainda uma sessão dedicada à troca de experiências entre várias organizações como STF, IBGE, IRCAI, C4IR e SEADE.
O evento é realizado desde 2010 pelo Cetic.br|NIC.br com o objetivo de discutir tópicos emergentes associados à produção de dados estatísticos sobre as tecnologias de informação e comunicação (TIC) e métodos de pesquisa junto à usuários e produtores de estatísticas públicas.
Para conferir os registros fotográficos do 12th NIC.br Annual Workshop on Survey Methodology, acesse: https://www.flickr.com/photos/nicbr/albums.
Foto: Ricardo Matsukawa/Divulgação NIC.br