Infraestrutura de conectividade, transformação de setores produtivos, medição, proteção e governança de dados foram os eixos da VII Escola de Verão de Transformação Digital
Nesta VII edição da Escola de Verão em Transformação Digital coorganizada pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (Cetic.br|NIC.br) e a Internet & Jurisdiction Policy Network (I&JPN), foram convidados formuladores de políticas públicas, membros de governos, reguladores, legisladores, acadêmicos e representantes de organizações multilaterais não governamentais, para trocar, compartilhar e discutir fatores atuais e emergentes associados à transformação digital, economia digital, inovação baseada em dados e sua governança.
Mais de 80 pessoas de 16 países participaram da Escola de Verão de Transformação Digital, um espaço concebido como um programa de capacitação que visa compartilhar conteúdos relevantes por meio de sessões de webinars, leituras, estudos de caso, apresentações e debates. O curso em sua sétima edição, se posicionou como uma plataforma relevante para gerar sinergias sobre as oportunidades e desafios associados à transformação e inovação digital entre formuladores de políticas públicas, membros de governo, ONGs e especialistas relacionados ao setor de tecnologias de informação e comunicação em um ambiente multisetorial.
Nos webinars realizados em espanhol, português e inglês, nos dias 16, 23 e 30 de novembro, foram abordados oportunidades e desafios da transformação digital na região, por mais de 10 especialistas internacionais. Foi considerada a evolução de um novo ecossistema digital, e de variáveis como infraestrutura, a transformação dos setores produtivos e a transição para uma economia baseada em dados, onde atores relevantes precisam aprofundar o conhecimento e o intercâmbio sobre tendências e melhores práticas para abordar o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências.
O Bloco I, no eixo temático “Infraestrutura e Conectividade”, contou com a participação de Lucas Gallitto (GSMA), que fez uma apresentação sobre as perspectivas e fatores facilitadores da tecnologia 5G e seus impactos na inclusão digital e inovação. Por sua vez, Fernando Rojas (CEPAL), abordou a situação da conectividade de banda larga no contexto da Covid-19, destacando as lacunas de acesso entre grupos vulneráveis, grupos de baixa renda e habitantes de áreas rurais e / ou remotas.
Para Álvaro Calderón, Chefe da Unidade de Inovação e TIC da CEPAL, "é importante ter em mente que as tecnologias digitais têm efeitos mistos. Por um lado, podem ser uma ferramenta para responder a problemas de bem-estar, produtividade e sustentabilidade, e ajudar a construir um novo modelo de desenvolvimento. Por outro lado, podem aprofundar lacunas estruturais pré-existentes, se medidas não forem acionadas para mitigar seus efeitos negativos como, por exemplo, em áreas tão importantes como o mercado de trabalho e a concorrência em setores cada vez mais dominados por empresas digitais nativas. Portanto, o papel das políticas públicas é essencial para garantir que os benefícios da digitalização se espalhem e se generalizem e, dessa forma, permitir que ela se torne o motor do crescimento econômico inclusivo”. “Neste contexto, esperamos que este espaço de análise e discussão sirva para que os participantes possam partilhar as suas experiências e perspectivas em relação aos temas abordados e também permitir a geração de novas redes e contatos que fortaleçam os processos de digitalização em nossos países", complementa Calderón.
O Bloco II no eixo “Transformação e medição digital” abordou em especial 3 tópicos. O primeiro deles tratou da transformação digital dos processos produtivos, para acelerar a recuperação econômica e o impacto de tecnologias como Big Data, IoT, Robótica e Inteligência Artificial. Agustín Diaz-Pines (Comissão Europeia) abordou a estratégia para a década digital européia e uma abordagem aos fatores associados à regulação da inteligência artificial, enquanto Juan Jung (Telecom Advisory Services| Universidad Pontificia Comillas ICAI-ICADE) apresentou mecanismos e indicadores para medir a economia digital e os desafios que a América Latina enfrenta em termos de disponibilidade e homogeneidade. As tendências em questões regulatórias para a concorrência nos mercados de serviços digitais entraram em pauta em outra sessão, que contou com apresentação de Ana Beatriz Souza (ANATEL) e Georgina Núñez (CEPAL). Já a medição, por governos, indústria e cidadãos, das tecnologias digitais disruptivas foi o terceiro tema do eixo, onde Ronald Jansen (UNSD) compartilhou algumas práticas e oportunidades associadas a métodos inovadores para a produção de dados estatísticos.
Sobre o tema da sessão, Mauricio Agudelo, Coordenador da Agenda Digital da CAF, destacou que a efetiva transformação digital da América Latina dependerá da articulação e do desenvolvimento de um círculo virtuoso entre a expansão e disponibilização de infraestrutura de telecomunicações de qualidade, a apropriação e a utilização que domicílios, empresas e governos fazem das tecnologias digitais, além de um ambiente de políticas públicas e regulamentações adequadas que estimulem e favoreçam os processos de inovação. Tudo isso, segundo ele, para mitigar as armadilhas de desenvolvimento da região, como a inclusão, equidade, produtividade e sustentabilidade - áreas nas quais a Escola constitui um espaço ideal para refletir, aprofundar e debater sobre melhores políticas públicas e melhores projetos que canalizem o potencial das TIC para o bem-estar dos latino-americanos e caribenhos.
Por sua vez, em relação à produção e utilização de dados estatísticos do setor de TIC para o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências, Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br, considera que ‘’a capacitação permanente é necessária aos formuladores de políticas públicas e a um amplo espectro de atores do setor”. Para ele, a Escola de Verão: Rumo à Transformação e Inovação Digital na América Latina, se constitui numa importante iniciativa entre CEPAL, CAF, Cetic.br|NIC.br e I&JPN, que proporciona uma contribuição relevante para os países da região. “A Escola não só oferece um espaço efetivo de diálogo sobre os aspectos tecnológicos emergentes, mas também promove a compreensão dos impactos econômicos e sociais dos processos de transformação digital e a necessidade de sua mensuração”, completa.
O Bloco III, dedicado ao tema “Governança de dados e proteção de dados pessoais”, teve duas sessões. Na primeira, sobre estruturas inovadoras para governança de dados e inteligência artificial, Lorrayne Porciuncula (I&JPN) e Beatriz Botero Arcila (Sciences Po) debateram sobre as principais tendências, oportunidades e desafios em relação à sua evolução. Na segunda, sobre privacidade, confiança e segurança on-line, houve uma apresentação de Christian Reimsbach-Kounatze (OCDE).
A respeito do tema, Carolina Rossini, Oficial de Impacto e Parcerias na Datasphere Initiative, incubada pela I&JPN, afirmou: “temos trabalhado juntos nos últimos meses com a convicção de que o desenvolvimento de capacidades associadas às políticas de gestão de dados entre os formuladores de políticas públicas, profissionais e partes interessadas relevantes são essenciais para enfrentar os vários desafios socioeconômicos. E para garantir que a região caminhe em direção à inovação e ao desenvolvimento com base na governança de dados, é fundamental formular estruturas holísticas, que gerem confiança, prosperidade, sustentabilidade e bem-estar para todos”.
Por fim, a Escola contou com 10 sessões de grupo nas quais os participantes apresentaram e discutiram temas como barreiras legais e regulatórias que os refugiados e migrantes enfrentam para o acesso à conectividade e serviços financeiros, conversão de bancos comunitários a fintechs, o panorama da conectividade durante a pandemia, o processo de transformação digital do Peru, a normalização estética de gênero em algoritmos de inteligência artificial, o acesso a uma Internet de qualidade, entre outros.
A Escola de Verão retomará sua oitava edição em 2022, em formato a definir. As apresentações e materiais de leitura desta edição estarão disponíveis para consulta no site: https://cetic.br/pt/evento/escola-verao-transformacao-digital/.