Debate do Cetic.br reflete sobre habilidades para uso das TIC
Painel contou com Divina Frau-Meigs, Ellen Helsper e Regina de Assis, com mediação de Juliana Doretto
O lançamento das edições de 2015 das publicações TIC Domicílios, TIC Educação e TIC Kids Online Brasil do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) foi acompanhado, na última quinta-feira (3), por um debate com especialistas de renome e um tema desafiador: como crianças e adolescentes podem consumir os conteúdos midiáticos e informacionais e se apropriar deles. Realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o encontro fez parte da programação do evento Media and Information Literacy Week 2016, promovido pela Unesco.
Na abertura do encontro, o conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) Luiz Fernando Martins Castro enfatizou a relevância dos indicadores produzidos pelas pesquisas do Cetic.br para embasar políticas públicas. “O trabalho do Cetic.br, reconhecido pela Unesco, tem função fundamental de coletar e apresentar dados que vão direcionar ações e propor novas frentes de trabalho para a Internet no Brasil.”
Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, também ressaltou a importância de coletar e produzir estatísticas de alta qualidade, comparáveis internacionalmente, que permitam o surgimento de políticas públicas mais efetivas com base em evidências. “Temos demonstrado um cenário perene de desigualdade no Brasil no acesso a TIC, e alertado, por meio dos resultados das pesquisas TIC Domicílios, TIC Educação e TIC Kids, a demanda urgente de crianças e adolescentes desenvolverem habilidades digitais”, destacou.
Ao citar alguns indicadores que demonstram a exclusão digital de crianças e adolescentes no país, Barbosa ressaltou que “no Brasil, 30 milhões de domicílios de classe C, D e E estão desconectados e 6 milhões de crianças e adolescentes não são usuários de Internet, sendo que mais de 3,5 milhões nunca acessaram a Internet”. Em relação ao acesso nas escolas, ele mencionou que apesar de 70% delas possuírem Wi-Fi, o acesso à rede é bloqueado por senha para os alunos. Para o gerente do Cetic.br, diante das necessidades latentes, gestores escolares devem realizar uma nova leitura sobre as mídias digitais bem como estimular o uso e apropriação efetiva dessas tecnologias.
Durante o painel, Divina Frau-Meigs (Sorbonne Nouvelle), Ellen Helsper (London School of Economics and Political Science) e Regina de Assis (Ministério da Educação), sob a mediação de Juliana Doretto (Cetic.br), abordaram questões cruciais para o consumo midiático e informacional, como o desenvolvimento de habilidades, os desafios de sua medição, as experiências e estudos internacionais e a formulação de políticas públicas.
Habilidades digitais
Para Ellen Helsper, políticas e intervenções focam no acesso às TIC e sua infraestrutura, mas é necessário investir em habilidades digitais. Mais do que isso, é preciso ainda mensurar os benefícios das TIC para a vida e bem-estar dos indivíduos. “Medimos o uso das TIC em vez de habilidades. Não sabemos, por exemplo, se alguém que fez uma busca na Internet encontrou a informação correta ou foi parar no caminho errado.” Helsper destacou que as desigualdades sociais são acentuadas no ambiente digital, com smartphones como único dispositivo de acesso à Internet para uma parcela significativa da população. E habilidades sociais e de criação de conteúdo são diferenciais que impactam no bem-estar. “Precisamos discutir quais os benefícios das TIC e quais resultados são importantes para nós.”
Em concordância, Divina Frau-Meigs afirmou que “não se deve colocar a ênfase na infraestrutura TIC, mas nas pessoas, no aprendizado e valores por trás disso”. A alfabetização midiática e informacional, em sua opinião, está relacionada com os direitos humanos, sob o guarda-chuva da liberdade de expressão e do direito à privacidade, à educação e à participação. Ela nasceu de forma multissetorial, pois envolve ONGs, educadores, empresas e administração pública, entre outros atores. Frau-Meigs criticou ainda a falta de coordenação e diálogo entre instituições e governos.
Cenário brasileiro
Os resultados modestos obtidos nos últimos 20 anos de investimento de recursos públicos em equipamentos para escolas, cursos de formação de professores e projetos de distribuição de tablets foram lembrados, durante o debate, por Regina de Assis. Assim como as demais palestrantes, ela refletiu sobre mudanças de paradigmas. “Temos que trabalhar as habilidades, mas temos que trabalhar também valores. Quais são os valores éticos, políticos e estéticos que queremos desenvolver com nossas crianças e jovens? Temos que adotar mudanças de paradigmas para educar, mas também precisamos trabalhar em várias frentes.”
Juliana Doretto sumarizou a participação das três convidadas ao concluir que: “Ainda temos questões de acesso a serem resolvidas, mas não devemos esperar a solução desse problema. Precisamos trabalhar as competências, habilidades e uso técnico das TIC, transformando-os em resultados tangíveis, em bem-estar, melhores condições de trabalho e vida. Os desafios precisam ser superados juntos”, ressaltou.
Indicadores e análises
Lançadas durante o evento, as publicações das edições de 2015 das pesquisas TIC Domicílios, TIC Educação e TIC Kids Online Brasil estão disponíveis para download. Os livros trazem análises e artigos sobre exclusão digital e desigualdades no letramento digital; privacidade; riscos on-line; adoção de TIC nas escolas; e políticas públicas de TIC e educação, entre outros temas. O debate promovido para marcar o lançamento das publicações também pode ser acessado, na íntegra, no endereço: https://www.youtube.com/NICbrvideos/videos.