Realização de atividades on-line mantém relevância no segundo ano da pandemia, aponta pesquisa do CGI.br
Acesso desigual a dispositivos segue afetando o teletrabalho e a educação remota no país, revela a 4ª edição do Painel TIC COVID-19, lançada nesta terça-feira (5)
No segundo ano da pandemia, as atividades on-line seguiram presentes no cotidiano dos brasileiros, mantendo-se em patamares superiores aos observados no período anterior à crise sanitária. A adoção significativa da Internet por diferentes estratos da população não foi capaz de eliminar as desigualdades digitais no país. A conclusão é da 4ª edição do Painel TIC COVID-19, estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
Divulgada nesta terça-feira (5), a pesquisa apresenta um panorama do uso da Internet no Brasil durante a pandemia COVID-19. Realizada on-line, a coleta dos dados se deu em julho de 2021, logo depois do momento mais crítico dos impactos da pandemia no território nacional, e na época em que se esboçava um retorno às aulas e ao trabalho presencial.
“A tendência de digitalização que observamos como efeito da pandemia teve continuidade no primeiro semestre de 2021 em atividades de comércio eletrônico e de serviços públicos on-line, o que indica que as transformações verificadas no período podem ter um caráter mais permanente na sociedade. Contudo, as disparidades seguem sendo um ponto relevante de atenção para as políticas públicas. Ainda que as classes C, D e E tenham passado a realizar mais atividades pela Internet, isso continua ocorrendo em um patamar inferior ao observado nas classes A e B. Esse quadro ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a redução dessas desigualdades”, afirma Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
Comércio eletrônico
Em 2021 houve uma consolidação dos hábitos de compras on-line. A prática do comércio eletrônico permaneceu em patamar similar ao observado em 2020, superior ao contexto pré-pandemia. Houve uma alteração no perfil dos bens e serviços adquiridos. Em 2020, com as medidas de distanciamento social, o uso do comércio eletrônico na compra de itens como medicamentos e comida cresceu em maiores proporções. Em 2021 houve um aumento da compra de bens mais duráveis, como eletrodomésticos, vestuário e equipamentos eletrônicos. “A cesta de produtos adquiridos on-line ficou mais diversificada, e o caráter emergencial das compras on-line cedeu espaço para tornar-se uma prática cotidiana. A compra de passagens aéreas, que havia se reduzido substancialmente em 2020, por exemplo, retomou níveis semelhantes aos verificados no período pré-pandemia”, destaca Barbosa.
Um dado inédito apresentado pelo painel foi a rápida adesão ao Pix, lançado em novembro de 2020. Segundo a pesquisa, 72% dos usuários que compraram pela Internet utilizaram essa modalidade para o pagamento digital. “Em meados de 2021, ele já havia se tornado o segundo meio de pagamento mais usado para realizar compras virtuais, quase empatando com o primeiro, o cartão de crédito. E isso aconteceu em todas as classes sociais”, afirma o gerente do Cetic.br|NIC.br, Alexandre Barbosa.
Teletrabalho
Em 2021, a pandemia seguiu transformando a rotina de muitas empresas, com a manutenção do modelo de teletrabalho. Ao mesmo tempo, foi possível observar um movimento de retorno à modalidade presencial entre aqueles que haviam realizado teletrabalho anteriormente.
As condições para o teletrabalho permanecem desiguais entre as classes sociais. Enquanto entre os usuários das classes AB o principal dispositivo usado para trabalhar remotamente foi o computador, o telefone celular foi o mais adotado nas classes DE. A pesquisa revelou, ainda, a origem do computador usado para trabalhar a distância: a maioria dos que usaram um computador para trabalhar remotamente já possuía esse dispositivo (47%). No entanto, enquanto os usuários das classes AB compraram um computador durante a pandemia em maior proporção, nas classes C e DE as principais alternativas foram equipamentos emprestados de amigos e familiares ou doados, respectivamente.
O levantamento revelou, também, que os usuários de Internet que trabalharam por intermédio de aplicativos enfrentaram diferentes condições de acesso à Internet para trabalhar. Nessa categoria estavam incluídos tanto os usuários que trabalharam como motoristas e entregadores, quanto aqueles que venderam pela Internet. “Entre os motoristas e entregadores, 68% encontraram dificuldades de conectividade para a realização de suas atividades, como circulação em áreas sem cobertura ou o esgotamento do pacote de dados. Proporção similar (71%) desses usuários afirmou ter adotado estratégias de enfrentamento, como a mudança de plano ou de operadora ou a aquisição de um segundo chip ou, ainda, contou com o apoio da empresa para conseguir usar a Internet pelo celular no trabalho”, relata Fabio Storino, coordenador da pesquisa no Cetic.br|NIC.br.
Ensino remoto
Dos usuários de Internet que frequentavam escola ou universidade, 63% afirmaram que a instituição em que estudavam ofertou aulas ou atividades educacionais remotas e 19% citaram a oferta de aulas na modalidade híbrida, refletindo o retorno parcial às aulas presenciais no primeiro semestre de 2021. Enquanto entre os usuários das classes AB o computador era dispositivo usado com maior frequência para acompanhar as atividades remotas, nas classes DE a maioria dos usuários acompanhou as aulas pelo celular.
A carência de recursos digitais figurou entre os principais aspectos que contribuíram para que os estudantes não conseguissem dar continuidade ao acompanhamento das atividades a distância. As principais barreiras reportadas pelos usuários para participar das aulas ou atividades a distância ofertadas pelas instituições de ensino estavam relacionadas à dificuldade de esclarecer dúvidas com os professores (41%), à falta de estímulo para estudar (41%) e à ausência ou baixa qualidade da conexão à Internet (38%). A falta de estímulo foi a barreira mais mencionada por usuários das classes AB (42%), enquanto a dificuldade para esclarecer dúvidas foi mais reportada por aqueles das classes DE (40%).
Cultura
De acordo com a pesquisa, em 2021, a proporção de usuários de Internet com 16 anos ou mais que assistiram a vídeos, programas, filmes ou séries pela Internet chegou a 89%, contra 74% antes da pandemia, segundo os dados da pesquisa TIC Domicílios 2019. Esse aumento foi maior entre aqueles com 60 anos ou mais (88%) e as mulheres (87%).
A pesquisa detectou, também, uma tendência de recuperação no uso da Internet para a participação em atividades culturais presenciais, setor que havia sido fortemente impactado em 2020 em função das medidas sanitárias. Entre os que compraram, pela Internet, ingressos para eventos, como shows, cinema, peças de teatro ou exposições, 73% o fizeram para eventos transmitidos on-line e 69% para eventos presenciais.
Telessaúde
Cerca de um quarto dos usuários de Internet com 16 anos ou mais realizou consulta médica ou com profissional de saúde pela Internet. Entre aqueles que recorreram às consultas on-line, 69% declararam ter realizado na rede pública – pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – e 53% na rede privada.
A maioria dos pacientes que tinham até Ensino Fundamental (94%) e Médio (79%) fez teleconsulta na rede pública. Já entre aqueles com Ensino Superior, 75% recorreram à rede privada. Em relação à classe social, a maioria dos usuários das classes AB (74%) utilizou esse serviço na rede privada, enquanto a maioria dos das classes C (80%) e DE (85%) o acessou via SUS.
Em todos os estratos investigados pela pesquisa, o meio mais utilizado para a realização de teleconsultas foram os aplicativos de mensagens (59%), em patamares bastante superiores a aplicativos especializados da rede pública (35%) ou de planos de saúde privados (34%).
Serviços públicos on-line
Segundo a pesquisa, a saúde pública foi a categoria de serviços públicos mais acessada pela Internet em 2021. Serviços como o agendamento de consultas ou outros serviços ofertados pelo sistema público de saúde foram realizados por 53% dos usuários de Internet, proporção que se manteve elevada em quase todos os estratos analisados, sobretudo entre os usuários de 60 anos ou mais (57%). Esse aumento coincidiu com o início da campanha da vacinação contra a COVID-19 em todo o território nacional, que, num primeiro momento, foi voltada para a população da terceira idade.
"Os dados apresentados pelo Painel TIC COVID-19 são de extrema relevância para entendermos o contexto do uso da Internet pelos brasileiros durante a pandemia. A partir da pesquisa, que reafirma o compromisso do CGI.br para com a sociedade, temos um retrato deste momento que trouxe desafios expressivos para o país, evidenciando a importância das políticas públicas de inclusão digital", reforça José Gontijo, coordenador do CGI.br.
Metodologia
O Painel TIC COVID-19 é uma pesquisa on-line com o objetivo de investigar as atividades realizadas por usuários de Internet de 16 anos ou mais durante a pandemia. Realizada entre 15 e 30 de julho de 2021 por meio de um painel de usuários de Internet, a presente edição contou com 5.552 entrevistas.
As estimativas apresentadas na atual edição do Painel TIC COVID-19 representam a totalidade da população de usuários da Internet com 16 anos ou mais no Brasil. Devido ao aumento na abrangência da população representada pela pesquisa, os dados não são diretamente comparáveis com as edições anteriores, que representavam parcialmente essa população. Tabelas adicionais para a realização de comparações temporais estão disponíveis no website da pesquisa (https://cetic.br/pt/pesquisa/tic-covid-19/indicadores/).
Para conferir a publicação da 4ª edição do Painel TIC COVID-19, acesse: https://cetic.br/pt/pesquisa/tic-covid-19/publicacoes/. Já o evento on-line de lançamento do estudo está disponível na íntegra em https://youtu.be/NoOGLQqPySU.
Sobre o Cetic.br
O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do NIC.br, é responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre o acesso e o uso da Internet no Brasil, divulgando análises e informações periódicas sobre o desenvolvimento da rede no País. O Cetic.br é, também, um Centro Regional de Estudos sob os auspícios da UNESCO, e completou 16 anos de atuação em 2021. Mais informações em https://cetic.br/.
Sobre o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br
O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR — NIC.br (https://nic.br/) é uma entidade civil de direito privado e sem fins de lucro, encarregada da operação do domínio .br, bem como da distribuição de números IP e do registro de Sistemas Autônomos no País. O NIC.br implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br desde 2005, e todos os recursos arrecadados provem de suas atividades que são de natureza eminentemente privada. Conduz ações e projetos que trazem benefícios à infraestrutura da Internet no Brasil. Do NIC.br fazem parte: Registro.br (https://registro.br), CERT.br (https://cert.br/), Ceptro.br (https://ceptro.br/), Cetic.br (https://cetic.br/), IX.br (https://ix.br/) e Ceweb.br (https://ceweb.br), além de projetos como Internetsegura.br (https://internetsegura.br) e Portal de Boas Práticas para Internet no Brasil (https://bcp.nic.br/). Abriga ainda o escritório do W3C Chapter São Paulo (https://w3c.br/).
Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança e Uso da Internet (https://cgi.br/resolucoes/documento/2009/003). Mais informações em https://cgi.br/.
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